Brasília, 14 de Novembro de 2023
A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Anderson Gustavo Torres, ex-Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, de apresentar um bilhete de passagem falso para justificar sua ausência no tumultuoso evento de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília. De acordo com a PGR, o bilhete fornecido por Torres não corresponde aos registros da companhia aérea Gol, sugerindo uma tentativa deliberada de se ausentar e se livrar de responsabilidades com relação aos atos golpistas.
Acusações Formais e Defesa
Em suas alegações finais apresentadas ao Supremo Tribunal Federal na última segunda-feira, a PGR destacou que o código de reserva “MYIDST”, indicado por Torres, não coincide com seus dados pessoais. Além disso, não há registro de voos para o trecho Brasília/Orlando em nome dele. Em sua defesa, os advogados de Torres afirmaram que a viagem aos Estados Unidos foi programada desde julho de 2022 e que as passagens foram adquiridas em novembro daquele ano. Torres alegou que estaria de férias a partir de 9 de janeiro, após ter ocupado o cargo até o dia 6 do mesmo mês. Segundo a defesa, a Secretaria de Segurança Pública do DF já tinha conhecimento de sua substituição e que um Plano de Ações Integradas (PAI) foi previamente elaborado para garantir a ordem.
Contexto das Manifestações
No dia 6 de janeiro de 2023, o mesmo dia da viagem de Anderson Torres, alertas sobre a iminência de manifestações violentas foram distribuídos. Entre esses alertas, um relatório da Força Nacional recebida pela Secretaria de Segurança Pública do DF citava riscos de violência e mencionava incremento de ônibus com manifestantes, além de termos como “Tomada de Poder”. No entanto, a atuação das forças de segurança foi insuficiente e demorou quase duas horas para ser reforçada.
Repercussões e Investigações
A PGR concluiu que Torres tinha um histórico de omissões que facilitavam o avanço dos atos golpistas. Com base na análise do celular do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, ficou evidente que Torres só compartilhou o contato de seu substituto com o governador um dia antes dos ataques, o que a Procuradoria considera um ato de negligência. Rocha revelou ter sido “pego de surpresa” pela viagem de Torres, o que resultou em um rompimento de confiança e subsequente exoneração do ex-secretário.
O episódio dos ataques de 8 de janeiro é parte de um cenário conturbado na política brasileira, onde tentativas de descredibilizar as instituições democráticas ganharam força, especialmente após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. A invasão aos prédios dos Três Poderes foi um marco desse contexto. O desdobramento dessas investigações promete trazer à tona mais detalhes sobre o envolvimento de autoridades no plano golpista, em um esforço contínuo para proteger e reforçar a democracia no país.